a psicologia explica?

Com Sibila Mozer
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A Idealização do Outro e a Nossa Fantasia de Amor

A idealização do outro, a partir da nossa fantasia de amor, é um fenômeno comum nas relações afetivas. Sempre nos apaixonamos por uma imagem que enxergamos nesse outro — uma imagem criada pela nossa mente, pelos nossos fantasmas, pela nossa história e pela nossa construção emocional.

𝚿 Nossa história de amor começa na infância

O amor, tal como o sentimos hoje, foi construído na nossa infância:

  • Com os nossos pais.
  • Com aquelas primeiras pessoas que cuidaram de nós.
  • Com quem nos ofereceu (ou não) afeto, segurança e escuta.

Se a qualidade desses primeiros afetos foi saudável e positiva, teremos a tendência de querer reviver novas experiências parecidas com elas.
Mas, se as experiências de afeto iniciais foram negativas — agressivas, violentas, abusivas, invasivas —, pode ser que, ao nos tornarmos adultos, busquemos inconscientemente
relações que repitam esse mesmo modelo.

Quando nos apaixonamos, o que vemos?

Podemos afirmar com certeza:
Antes de conhecermos uma pessoa, ao olharmos para ela e nos apaixonarmos,
não estamos vendo essa pessoa de fato.

Estamos vendo algo que ressoa dentro de nós — algo que só nós mesmos conhecemos (e, às vezes, até desconhecemos). Mas de algum modo, enxergamos ali um reflexo interno:

  • No olhar.
  • No jeito de se movimentar.
  • No tom de voz.
  • Nas palavras que escolhe.

É um conjunto de fatores que nosso cérebro rapidamente capta e identifica como algo familiar — e, ao mesmo tempo, como algo estranho, algo a ser decifrado.

Essa pessoa toca exatamente aquilo que temos dentro de nós.
Toca o que está guardado no nosso inconsciente sobre o que seria o “ideal de amor”.

Quando a fantasia começa a ruir

Em algum momento, nos deparamos com a dificuldade de aceitar que aquela pessoa não é nada daquilo que imaginamos.

É aí que começam os conflitos, os desencontros, e frases como:

  • “Não pensei que você fosse assim.”
  • “Não foi isso que eu vi em você quando te conheci.”
  • “Você está me decepcionando.”
  • “Eu me sinto frustrada.”

Esse momento pode ser doloroso — mas também é uma oportunidade.

Talvez o amor comece aqui

Talvez, nesse instante de frustração, possamos:

  • Sentir amor verdadeiro por alguém real, e não idealizado.
  • Sentir indiferença.
  • Decidir conhecer a pessoa que está diante de nós, não a que criamos na mente.

Mais do que isso:
A
riqueza do desencontro pode nos levar a um encontro conosco — ao percebermos quem somos, diante da dificuldade de lidar com a diferença do outro.

Esse é o ponto central de um relacionamento maduro:
um vínculo que nos torna maiores, mais conscientes, mais capazes de amar.

Quando nos abrimos para as diferenças, as estranhezas, os desencontros — e decidimos permanecer nessa aventura — damos um passo rumo a um amor mais profundo e verdadeiro.

💌 No Dia dos Namorados, desejo a você:

Coragem.

  • Coragem de enfrentar a estranheza.
  • Coragem de olhar para o outro como ele é.
  • Coragem de ver-se a si mesmo diante da diferença.
  • Coragem de amar, mesmo quando o amor não cabe mais na fantasia.

Porque o que é o amor, senão isso?



Curiosidade artística: escolha da capa – A Bela Dama sem Piedade (La Belle Dame sans Merci – Frank Dicksee), em paródia de design próprio.

A pintura original retrata uma cena intensa: uma bela mulher de cabelos vermelhos, montada em um cavalo, se inclina em direção a um cavaleiro encantado por sua presença. A imagem, inspirada no poema homônimo de John Keats, representa não apenas o poder hipnótico da paixão, mas também os perigos da idealização amorosa.


O cavaleiro parece entregue, quase dominado, enquanto a figura feminina encarna o arquétipo da fantasia amorosa — bela, misteriosa, inacessível. Porém, o título da obra revela a contradição: a bela dama sem piedade.

Essa escolha se conecta diretamente ao tema da idealização do outro e das nossas fantasias sobre o amor. Quando projetamos no outro uma imagem construída por nossas carências, medos e desejos, corremos o risco de nos apaixonarmos não pela pessoa real, mas por uma versão fantasiosa. Assim como o cavaleiro na pintura, ficamos encantados por um reflexo interno — algo que, mais tarde, pode nos deixar desiludidos, vazios ou até “enfeitiçados” por um amor que nunca existiu de fato.