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Com Sibila Mozer
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Como lidar com um Borderline


Relacionar-se com alguém que tem Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) pode ser uma experiência intensa, desafiadora e, muitas vezes, confusa. Mas também pode ser uma jornada de compreensão, crescimento mútuo e profundidade emocional.

Neste artigo, explico o que é o transtorno na visão psicanalítica, os principais sintomas e, especialmente, como melhorar a convivência — seja você parceiro(a), amigo ou familiar de uma pessoa com esse diagnóstico.

𝚿 O que é o Transtorno de Personalidade Borderline na visão da Psicanálise?

Na perspectiva psicanalítica, o Transtorno de Personalidade Borderline não é apenas um conjunto de sintomas, mas uma estrutura psíquica marcada pela fragilidade do ego, medo do abandono e instabilidade na relação com o outro e consigo mesmo.

O borderline vive num campo limítrofe entre a neurose e a psicose — daí o nome “borderline” (limítrofe). Ele tem dificuldade em manter uma imagem consistente de si mesmo e do outro, o que pode gerar intensos altos e baixos emocionais e relacionamentos marcados por idealizações e decepções.

A raiz dessa organização psíquica pode estar em vivências precoces de rejeição, traumas afetivos ou falhas no ambiente cuidador. O borderline, muitas vezes, ama com intensidade, mas teme ser abandonado — e, paradoxalmente, pode afastar as pessoas como forma de se proteger.

Quais são os sintomas do Transtorno Borderline?

Os principais sinais incluem:

  • Medo intenso de abandono real ou imaginado
  • Relacionamentos instáveis e intensos, com extremos de idealização e desvalorização
  • Impulsividade (gastos, sexo, alimentação, drogas)
  • Autoimagem instável (sentir-se vazio, sem saber quem é)
  • Comportamentos autodestrutivos, como automutilação ou ameaças de suicídio
  • Oscilações de humor intensas e rápidas
  • Sensação crônica de vazio
  • Raiva intensa e inadequada, frequentemente desproporcional
  • Paranoia ou dissociação temporária sob estresse

Como se sente quem se relaciona com um Borderline?

Estar próximo de alguém com TPB pode ser emocionalmente exaustivo, mas também profundamente significativo. Quem convive com o borderline muitas vezes relata:

  • Sensação de estar em uma montanha-russa emocional
  • Medo constante de fazer algo “errado” e ser rejeitado
  • Sentimento de responsabilidade excessiva pelos estados emocionais da outra pessoa
  • Cansaço por lidar com crises frequentes
  • Amor e compaixão misturados com frustração, raiva ou culpa
  • Confusão diante de comportamentos contraditórios: "Ela me ama ou me odeia?"

Essa ambivalência é parte do transtorno e não um reflexo do valor ou do amor que essa pessoa sente por você. O borderline sente muito, mas expressa isso de forma fragmentada.

Como melhorar a convivência diante dos sintomas

Conviver com alguém com TPB exige limites claros, escuta empática e, muitas vezes, apoio profissional. Veja algumas orientações específicas:

💕 Se você é o(a) namorado(a)

  • Estabeleça limites firmes e afetuosos: O borderline pode testar os limites como forma de se sentir seguro. Mantenha consistência.
  • Evite o jogo da “prova de amor”: Você não precisa se sacrificar para demonstrar que ama.
  • Não personalize os ataques: Muitas vezes, a raiva ou o desespero não são contra você, mas contra a dor interna.
  • Demonstre constância e presença: Pequenos gestos de segurança emocional fazem grande diferença.
  • Busquem terapia de casal (quando possível): Pode ajudar a compreender as dinâmicas e evitar escaladas emocionais.

🏠 Se você é familiar (pai, mãe, irmão)

  • Evite superproteção ou rejeição: Ambos os extremos podem intensificar os sintomas.
  • Aprenda a escutar sem tentar consertar: O borderline quer ser ouvido, não consertado.
  • Não entre em ciclos de culpa: O transtorno não é culpa sua — nem da pessoa que o vive.
  • Busque psicoeducação: Entender o transtorno ajuda a lidar com menos julgamento e mais empatia.
  • Procure apoio para você também: Familiares também precisam de espaço terapêutico.

🫂 Se você é amigo(a)

  • Ofereça presença, mas respeite seus limites: Você pode apoiar sem se anular.
  • Esteja disponível em momentos críticos — mas saiba quando indicar ajuda profissional.
  • Evite julgamentos rápidos: Comportamentos instáveis não são falta de caráter, mas expressão de dor psíquica.
  • Reconheça suas próprias emoções: Não ignore seu cansaço ou frustração.

𝚿 Por fim…

Relacionar-se com uma pessoa borderline pode ser desafiador — mas também pode abrir espaço para um tipo de vínculo profundamente humano, desde que haja limites claros, empatia e suporte adequado.

Com acompanhamento psicológico e, em muitos casos, psiquiátrico, é possível melhorar a qualidade de vida de quem tem o transtorno — e de quem está ao seu lado.

Se você convive com alguém com Borderline e precisa de orientação, procure ajuda profissional. Você não está sozinho(a).



Curiosidade artística: escolha da capa: Dama com Flores (Lady with Flowers – Leopold Schmutzler), em paródia de design próprio.

A pintura original retrata uma jovem mulher aparentemente feliz, mas não é bem assim... Embora a estética externa remeta à felicidade ou feminilidade idealizada, a emoção da figura parece ser mais próxima de contenção, melancolia ou raiva silenciosa, uma dissonância entre aparência e emoção.


Além desta, foram selecionadas outras duas pinturas no estilo renascentista, porém contemporâneas, editadas em paródia de design próprio, representando duas emoções fundamentais ligadas ao transtorno: raiva e tristeza.


As três obras reinterpretadas ilustram simbolicamente o tema borderline através de expressões visuais de três emoções centrais: "felicidade", raiva e tristeza — compondo uma narrativa visual sobre as camadas afetivas de quem vive essa estrutura psíquica.